Eu fiquei ali ao pé da Graziela sem saber bem o que dizer.
- Que cena aquela do teu amigo, ein?
- Pois ter sido. Desculpa, ele é muito ciúme.
- Não tens de pedir desculpa. Eu entendi que ele é assim meio…
- Parvo?
- Sim, é capaz de ser isso.
- Ele não ser meio parvo, ele ser parvo. – Depois de rirmos, perguntei-lhe:
- Tu gostas dele?
- Eu? Não. É parvo. É feio. É arrogante. E tu?
- Se sou feio e arrogante? – Ela riu-se.
- Não, se tu gostar de alguém?
- Eu? Bem, eu não tenho namorada.
- E tu pensar nisso? – Eu envergonhado respondi:
- Às vezes. No mar sentimo-nos muito sozinhos e sabia bem ter alguém para abraçar de vez em quando.
- Eu acreditar que sim, dever ser muito triste. Mas porque tu não abraçar amigos?
- Os rapazes normalmente não se abraçam, só mesmo numa ocasião muito especial.
- Eu poder te abraçar?
- O quê…agora?
- Se tu querer. – Eu fiquei surpreendido com aquela sugestão. Ela notando a minha hesitação em responder, disse:
- Desculpa, estar a tentar ser amiga. Foi uma coisa que passou cabeça. Desculpa.
- Não, não é isso. É que já não abraçava ninguém há algum tempo. Gostava muito de um abraço teu.
Ela voltou-se para mim e abraçou-me. Ficamos assim por um minuto. Olhei por cima do ombro dela e lá estava o casalinho português com um sorriso nos lábios a olhar para nós. Eu sorri e depois voltei a fechar os olhos. Contemplei com o máximo de sentido o momento daquele corpo frágil de menina junto ao meu. Os seus cabelos a tocarem-me no rosto. Os seus braços apertando-me contra si. O seu cheiro feminino. Parecia interminável mas quando acabou soube a pouco. Olhei-a nos olhos e desviei instintivamente o cabelo dela para trás da orelha. Fechei os olhos e beijei-a nos lábios suavemente. Foi uma sensação quase indescritível. Era como estar a provar o melhor favo de mel de sempre, só que não era doce e não perdurava nenhum sabor após separarmos os lábios e por isso, a vontade era de obter mais. Depois abrimos os olhos e num expirar tremido, separamos os lábios. Foi a sensação mais bela que alguma vez senti. Ultrapassou em muito a experiencia com Annelise. Depois desse momento, separamos o olhar e ficamos como que envergonhados a olhar para o rio. Após uns largos segundos, eu perguntei-lhe:
- Estás bem? – Foi o que me saiu.
- Sim e tu?
- Sim. – Mais um silêncio. Depois ela perguntou:
- Gostas de mim? – Eu não tinha a certeza disso ainda mas achei que ela merecia ouvir isso naquela altura:
- Sim Graziela, gosto de ti. – Ela sorriu tentando disfarçar o ar de menina inocente.
- E tu Graziela, gostas de mim?
- Mesmo antes de conhecer, eu gostar de ti. És herói antes de chegar. Pedro contar tudo sobre ti nas cartas. Tinha vontade de conhecer homem como tu.
Eu sorri embaraçado.
- Ora Graziela, estás a exagerar. Eu sou igual aos outros homens.
- Não, tu ser especial. Hoje não se encontrar homens com sentimentos profundos como tu Moore.
- Entre os homens isso chama-se ser-se maricas.
- Entre mulheres ser romântico e lindo. Todas mulheres sonham ter homem assim. Eu ser feliz de ter encontrado Moore.
Aquelas palavras profundas de Graziela consciencializavam-me da responsabilidade que era ter um estatuto daqueles. Se depois daquele acontecimento eu simplesmente me afastasse de Graziela, seria uma grande desilusão e dificilmente ela voltaria a confiar em algum homem.Luís Medeiros in A Fuga
5 comentários:
Isso é fantastico. ;)
Muitos parabéns - foi-me uma leitura muito interessante.
Amo vir aqui dar comida aos peixes!!! bjins
Olá!
Parabéns pelo blog!
Realmente aqui encontrei muita "coisa" bonita.
Abraço.
Paulo Romero.
Meliponário Braz.
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